É hora de programar viagens?


No início deste ano, quando a pandemia do COVID-19 era um evento totalmente novo, viajamos para o nordeste do Brasil. Na época, com os rumores do vírus se espalhando por vários países, já procurávamos ter cuidados de higienização frequente das mãos, mas ainda não se via o uso de máscara como uma coisa comum. 

Em seguida, no início de março, embarcamos em um voo para o Chile, para de lá seguir em uma viagem de navio até o Canadá. No aeroporto começamos a ver algumas pessoas usando máscara, mas ainda eram poucas. No avião os comissários ainda trabalhavam sem procedimentos de segurança, sem máscara, as coisas pareciam sob controle. 
Passamos duas noites em Santiago do Chile, com intenção de no terceiro dia seguir para San Antonio, para embarcar em um navio da Celebrity Cruises. Seria uma viagem de 23 noites visitando países da América do Sul, o México, e com paradas em San Diego, Los Angeles, San Francisco, Seattle, entre outros nos Estados Unidos. E desembarque final em Vancouver, no Canadá. A ideia era, após o desembarque, viajar alguns dias pelo Canadá, Califórnia, Nevada e finalmente Flórida. Para então retornar ao Brasil. Viagem bonita, não? Só que nada disso aconteceu! 
Espera para embarque em Santiago do Chile
No dia 14 de março, um dia antes do programado para embarque no Celebrity Eclipse, o governo dos Estados Unidos fechou os portos americanos causando grande estardalhaço pelo mundo. Nesse mesmo dia, um Sábado, recebemos notificações com informações desencontradas da Celebrity Cruises e finalmente determinando que o embarque em San Antonio estava sendo cancelado. 

Na época, poucas informações conseguíamos obter da companhia. Nossas indagações não encontravam respostas. Para piorar a situação, no dia seguinte, o governo do Chile informou que na quarta-feira fecharia suas fronteiras para o mundo, sendo inclusive paralisado o tráfego aéreo. 

Um grande tumulto se formou pela cidade de Santiago. Nos supermercados já observávamos uma correria desenfreada das pessoas indo às compras, buscando desde alimentos até o fatídico papel higiênico. 
Rio Mapocho: oportunidade de rever  Santiago
No hotel onde estávamos hospedados tivemos a chance de conhecer muitos outros passageiros, que embarcariam no mesmo navio que nós. Alguns de nacionalidade inglesa, alemães, muitos norte americanos, entre outros. Todos na mesma situação de emergência de voltar a sua casa, estando em um país estrangeiro. 

Com tantos passageiros tendo que sair do país até a quarta-feira, não foi nada fácil encontrar passagem para retornar logo ao Brasil

Apesar das preocupações, da frustração da viagem cancelada, do estresse e alguns prejuízos, no meio disso tudo, como viajantes inveterados, conseguimos matar um pouco as saudades da encantadora Santiago do Chile. Em meio à confusão, aproveitamos para andar pelo bairro da Providência e arredores, visitando o Parque de Las Esculturas em um dia de Domingo. Assista ao filme abaixo e faça um passeio virtual junto com a gente pela Providência
Caso não consiga abrir o vídeo pelo mobile, vá ao fim desta página e acesse a matéria no modo "visualizar versão para web".
Depois de muita apreensão, estávamos voando de volta para o Brasil, para o Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Por sorte conseguimos passagens e fizemos uma longa viagem de ônibus até nossa cidade. 

Chegar em casa em meio ao tumulto gerado pelo decreto do início de uma pandemia foi a melhor coisa do mundo. Nossa casa, nosso país, o porto seguro. Mas isso era apenas o início de tudo que estava por vir, já que todo mundo conhece a história vivida nesses últimos dez meses de confinamento e as atitudes de cuidados referente ao Coronavírus. 

Logo demos início ao processo de cancelamento e busca de reembolso de todos os serviços contratados para a viagem. Fizemos contato com a companhia de navegação, companhias aéreas, hotéis e locadoras de veículos. Foi bastante trabalhoso e a experiência de seis anos atendendo em pós-vendas na companhia aérea IBERIA mostrou-se extremamente útil naquele momento. 
Embarque em navio cancelado
Todos os fornecedores, sem exceção, se portaram muito bem diante da situação. Conseguimos cancelamento de reservas com tarifas não reembolsáveis ou aquisição de vouchers de alguns serviços, com validade de mais de um ano. Mas volto a observar: o processo todo foi bem trabalhoso! 

Constatamos que dois hábitos adotados por nós, no planejamento de viagens, foram super válidos naquele momento: 

1 - ADQUIRIR SERVIÇOS DIRETO COM O FORNECEDOR*

2 - ADQUIRIR A MAIORIA DOS SERVIÇOS COM FORNECEDORES DOS QUAIS SOMOS CLIENTES FREQUENTES**

*Solicitar cancelamentos, reembolsos e vouchers diretamente com os fornecedores, sem intermédio de operadoras, facilitou muito toda a negociação. 

**O fato de ser cliente frequente (companhias aéreas, redes hoteleiras, companhia de navegação) ajudou na cordialidade do atendimento e agilidade nos trâmites das reclamações. 

Posteriormente descobrimos que o navio de cruzeiros Celebrity Eclipse, que atracaria no porto de San Antonio para embarque e desembarque de milhares de passageiros, foi impedido pelo governo chileno de fazer sua escala no país. Por isso, centenas de passageiros de diversas nacionalidades, entre eles muitos chilenos chegando em casa, foram impedidos de sair do navio. A parada foi permitida apenas para o embarque de provisões alimentícias e abastecimento de combustível. Alguns medicamentos não disponíveis foram adquiridos depois, em uma das duas paradas do navio, se não me engano no Peru e Equador. A conclusão é que a maioria dos passageiros a bordo seguiu não mais em uma missão turística, mas quase reféns de uma viagem. Muitos deles impedidos de desembarcar no destino final. Apesar de 2300 passageiros descerem em San Diego, o navio teve que retornar ao México para o desembarque de 200 passageiros que não tinham visto no passaporte para a entrada nos Estados Unidos. Além disso, alguns testaram positivo para Covid-19, sendo que três passageiros e um tripulante foram levados  ao hospital, com sintomas respiratórios e cardíacos. Tudo isso foi noticiado em jornais locais americanos como o NBC San Diego e CBS 8. No fim das contas, não embarcar neste navio foi uma sorte!
Caribe frustrado
Em maio passado, isolados em casa imaginávamos que nossa próxima viagem agendada para novembro deste ano, incluindo navegação pelo Caribe e dias de passeios pelos Estados Unidos, estava garantida. Mal sabíamos que a data se aproximaria e o filme dos cancelamentos e pedidos de reembolso se repetiria mais uma vez. 

Viajaríamos em família e alguns membros decidiram pedir reembolso do cruzeiro. Outros optaram pelo pedido de vouchers de viagem, já que a Royal Caribbean ofereceu 125% de crédito para tal. As solicitações de cancelamento e reembolso tiveram início no mês de agosto passado e seguem em andamento até o dia de hoje (26). 

Os trâmites desta vez têm sido mais demorados. As companhias têm se respaldado na Medida Provisória 948, assinada pelo Presidente da República do Brasil, em 08 de abril de 2020, que prevê, em casos de reembolso de serviços turísticos, a possibilidade do mesmo ser feito no prazo de 12 meses pelos fornecedores. 

É claro que os casos devem ser analisados isoladamente e há a possibilidade da demanda judicial por parte do reclamante. Porém, em tempos de pandemia, um acordo consensual é quase sempre a melhor opção. 

Enfim, mesmo que os prejuízos financeiros sejam minimizados, ficará sempre a frustração pela viagem planejada e não cumprida e a dor de cabeça do desmantelamento de toda a programação. 
E aí surge a pergunta:

- É hora de programar viagens? 

Tenho escutado essa pergunta muitas e muitas vezes, durante a pandemia. Não só pelo desejo exacerbado de sair por aí, típico de todo maníaco por viagens. Mas também devido às ofertas mirabolantes de serviços a preços aparentemente de banana, oferecidos pelas operadoras e companhias de serviços turísticos. 

Não há resposta certa mas, pessoalmente, contabilizamos as experiências negativas relativas à frustração pelas viagens canceladas, à incerteza nos pedidos de reembolsos e cancelamentos, às dificuldades de deslocamentos pelo fechamento de barreiras geográficas, aos equipamentos de turismo funcionando precariamente, ao desgosto do isolamento social, à falta de liberdade, à inestimável perda de conhecidos, vizinhos e amigos... 

Diante de tudo o cenário do turismo, apesar de tentador, é um tópico que exige cautela. Afinal, estamos vivendo momentos de incerteza, quando a única coisa certa é saber que a transmissão do vírus acontece de uma região para outra, através dos indivíduos que transitam por diversas áreas. Por isso, viajar está relacionado entre muitas das condições inseguras desta pandemia. 

Apesar de querermos ver logo a luz no fim do túnel, sabemos que ainda é tudo bem incerto. Mesmo com a vontade de voltar a viajar batendo forte dentro do peito, decidimos sossegar em casa e ainda nem estamos programando nada grandioso. 

Imaginamos que o retorno ao hábito das viagens, para nós, se dará a princípio nas regiões mais próximas a moradia, de preferência de carro. Aos poucos, a medida que as coisas se acertarem.

Afinal, viajamos por prazer! E se essa atividade começa a trazer incertezas, dúvidas, estresse, perde sua função! Então decidimos nos aquietar. Aguardar, que dias melhores virão! 

Ontem passamos o Natal mais estranho de toda a vida, longe dos familiares, dos amigos e sem a liberdade que sempre tivemos, por escolha. 

Agradecemos diariamente, pois seguimos vivos e saudáveis. Em casa e sem saber quando voltaremos a viajar. Que seja em breve!

E você? Quando acha que voltará a viajar novamente? Já está programando alguma coisa? Conte para a gente aqui nos comentários!

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